Nesta postagem falaremos mais sobre os comportamento que observamos ao longo do nosso estudo.
Comportamentos agonísticos
Comportamentos agonísticos são caracterizados por mecanismos
que envolvem "dominância" e "submissão", ou seja, durante a expressão destes comportamentos
podemos observar a presença de dois elementos chaves: um é o individuo dominante - o agressor - que é quem
geralmente inicia as agressões por algum motivo(territorialismo, não aceitação
de parceiros ou outros membros do grupo, etc.); enquanto o outro, o individuo submisso - aquele que sofre a agressão - busca através
de ações peculiares se submeter ao seu agressor, tentando assim afastar as
injúrias sofridas. Tal mecanismo é muitas vezes eficiente para que lesões sejam
evitadas durante lutas.
Allen(1972) percebeu que as espécies do gênero Amphiprion apresentam comportamentos agonísticos mais intensificados em ambiente de cativeiro do que em ambiente natural. Como citamos em
postagens anteriores, os peixes palhaços possuem hierarquia bem definida, relacionada inclusive com a
própria agressividade dos peixes. Neste contexto, pudemos realmente observar que em um ambiente de cultivo, onde apenas um par se encontrava presente no aquário de estudo, as questões de
dominância e submissão são ainda bastante expressivas. Claro que não devemos
julgar determinados comportamentos como sendo pertencentes a um todo, uma vez
que eles são bastante particulares em expressão, pois dependem de como cada peixe
se relacionará um com o outro, de sua aceitação e também das próprias condições
ambientais oferecidas a eles, que podem ou não influenciar na presença de
"brigas". No entanto, com base nesses dados de agressividade podemos
ter uma ideia de como proceder em relação a cada par no nosso cultivo.
Avaliar esses
comportamentos é portanto fundamental para o sucesso na formação de casais.
Primeiramente, deve se identificar quais comportamentos
são agonísticos e se eles costumam se repetir entre um par, pois é na questão
das repetições constantes que há problemas. Mordidas(na cabeça, lateral do
corpo ou cauda), tentativas de morder, perseguições(que acabam sendo seguidas
por tentativas de agressão vindas do dominante) e contato frontal(peixe
"cara-a-cara") são comuns em pares
de peixes palhaços que costumam brigar, sendo estes 4 comportamentos os
que mais observamos no nosso estudo. Outros
comportamentos como a ciranda(peixes em direção um a cauda
do outro, fazendo movimentos circulares) e o dominante rodeando o submisso
parado também podem ser indicativos do que acontece.
A seguir estão alguns
vídeos relacionados a comportamentos agonísticos que identificamos.
Vídeo 1: Alguns comportamentos como a tentativa de morder e o confronto frontal podem ser observados. As agressões partem sempre da fêmea e o macho encontra-se a todo instante próximo ao azulejo, aparentemente recuado. O vídeo foi gravado em um período de alimentação.
Vídeo 2: Ameças de morder vindas por parte da fêmea, que persegue o macho quando ele tenta recuar.
Vídeo 3: Tentativas de morder por parte da fêmea, que persegue o macho quando este recua de suas agressões. Ao final do vídeo(1:00'- 1:02´) o macho apresenta um comportamento de "tremer", diante do agressor.
No vídeo 3 pode se observar um dos mecanismo de um
individuo submisso para se livrar das agressões sofridas. O comportamento de
“tremer”, bastante utilizado para esses fins, é relacionado também a um tipo de
vocalização, segundo relatos de Orphal Colleye e Eric
Parmentier, que analisaram a vocalização durante expressão de comportamentos
agonísticos.
A)Individuo dominante perseguindo o
submisso e produzindo sons agressivos.
B)
Individuo submisso realizando movimentos de submissão(tremor de cabeça) e
emitindo sons de submissão.
Fonte: http://www.advancedaquarist.com/blog/clownfish-vocalizations-used-to-establish-heirarchy-and-breeding-status
Segundo Moyer e
Bell(1976), os comportamentos agonísticos ocorrem mais frequentemente em pares jovens ou imaturos, sendo que a
ocorrência destes comportamentos decresce quando o par irá se reproduzir. Portanto, é muito importante se prestar
atenção na frequência destes comportamentos, para que os pares sejam ou não separados, até mesmo porque a agressividade pode causar
danos nos peixes que sofreram agressão, levando a machucados que podem servir
como uma porta para infecções bacterianas(como aconteceu com uma fêmea no nosso
estudo).
Comportamento de Coorte
Conhecer o comportamento sexual é muito importante num
cultivo, pois certos comportamentos expressados nos machos e fêmeas indicam se
estes estão aptos para a reprodução naquele momento. Os comportamentos de
coorte em peixes palhaços são comuns e presentes em todas espécies do gênero Amphiprion, não se alterando a medida
que os animais ganham experiência.
Infelizmente, não observamos a expressão de nenhum comportamento de coorte
durante o estudo, mas, através de pesquisas, colocaremos aqui os que são
considerados os principais:
* Segundo
Allen(1972), dois comportamentos que havia observado em seu estudo são considerados
de interação entre o casal: a postura lateral, sendo a mais comum quando um
individuo inclina a nadadeira dorsal na direção do parceiro, fazendo alguns tremores da
cabeça(ou do corpo); e a postura paralela, que consiste em movimentos natatórios
onde estão paralelamente um ao outro, podendo encontrar-se inclinados(inclinação com a parte ventral ou dorsal) ou não em
direção ao parceiro;
* Segundo Reese(1964) e Allen(1972) um comportamento chamado "signal jumping"(ou "dança"), ocorre períodos antes da desova. Ele consiste em movimentos realizados pelo macho em torno da fêmea, caracterizados por serem de cima para baixo ou vice-versa. Segundo estudos, esse comportamento indica aproximação da desova;
* Segundo Allen(1972) e Haschick(1998), o comportamento de perseguir(seguir intensamente mas sem agressão a seguir) o parceiro também é muito comum , ganhando mais intensidade com a aproximação da desova;
* Haschick(1998), observou a predominância do comportamento de "toque na barriga" do parceiro, o qual é mais realizado pelas fêmeas;
* A limpeza de substrato, identificada por Allen(1972) e também observada por Haschick(1998), é considerado o comportamento mais expressivo de que a desova está chegando. Segundo Haschick, esse comportamento se torna mais intenso a medida que o casal está prestes a desovar, sendo que Gopakumar(2006) relata que o macho se torna mais agressivo durante esse período de expressão de comportamento.
Interação com o substrato
Interação individual com tubo de PVC
Quando propomos o projeto, nossa ideia inicial era de avaliar a escolha dos casais em relação ao substrato no período de desova. No entanto, como esta não ocorreu, nos pareceu interessante avaliar a interação dos pares em relação aos substratos inseridos, uma vez que Allen(1972) observou que o par frequentemente visita o futuro local do ninho.
A interação com o substrato foi bastante observada no período de estudo, sendo caracterizada tanto como um comportamento individual(pares escolhem substratos diferentes para se estabelecerem) quanto um comportamento do par(ficam juntos no substrato), o que varia de acordo com a relação dos pares nos aquários.
REFERÊNCIAS:
* Gopakumar, G.Culture of Marine Ornamental Fishes with reference to Production Systems, Feeding and Nutrition.
* HASCHICK, Rory Dean. REPRODUCTIVE BAHAVIOUR OF THE SKUNK CLOWNFISH,Amphiprion akallopisos, UNDER CAPTIVE CONDITIONS. Chapter 3: SPAWNING BEHAVIOUR OF A. akallopisos. 1998.
* ALLEN, G.R. 1972. The anemonefishes - their classification and biology. T.F.H. publications. 286 pp.
* Moyer, J.T. and LJ.Bell
1976. Reproductive behaviour of the anemonefish Amphiprion clarldi at
Miyake-Jima, Japan. Jpn. J. Ichthyol. 23(1): 23-32.
* http://www.advancedaquarist.com/blog/clownfish-vocalizations-used-to-establish-heirarchy-and-breeding-status