quarta-feira, 4 de junho de 2014

Comportamento na formação de casais(parte 2)

Nesta postagem falaremos mais sobre os comportamento que observamos ao longo do nosso estudo.

Comportamentos agonísticos
Comportamentos agonísticos são caracterizados por mecanismos que envolvem "dominância" e "submissão", ou seja,  durante a expressão destes comportamentos podemos observar a presença de dois elementos chaves: um é o individuo dominante - o agressor - que é quem geralmente inicia as agressões por algum motivo(territorialismo, não aceitação de parceiros ou outros membros do grupo, etc.); enquanto o outro, o individuo submisso -  aquele que sofre a agressão - busca através de ações peculiares se submeter ao seu agressor, tentando assim afastar as injúrias sofridas. Tal mecanismo é muitas vezes eficiente para que lesões sejam evitadas durante lutas.
 Allen(1972) percebeu que as espécies do gênero Amphiprion apresentam comportamentos agonísticos mais intensificados em ambiente de cativeiro do que em ambiente natural. Como citamos em postagens anteriores,  os peixes palhaços possuem hierarquia bem definida, relacionada inclusive com a própria agressividade dos peixes. Neste contexto, pudemos realmente observar que em um ambiente de cultivo, onde apenas um par se encontrava presente no aquário de estudo, as questões de dominância e submissão são ainda bastante expressivas. Claro que não devemos julgar determinados comportamentos como sendo pertencentes a um todo, uma vez que eles são bastante particulares em expressão, pois  dependem de como cada peixe se relacionará um com o outro, de sua aceitação e também das próprias condições ambientais oferecidas a eles, que podem ou não influenciar na presença de "brigas".  No entanto, com base nesses dados de agressividade podemos ter uma ideia de como proceder em relação a cada par no nosso cultivo.
 Avaliar esses comportamentos é portanto fundamental para o sucesso na formação de casais.
 Primeiramente, deve se identificar quais comportamentos são agonísticos e se eles costumam se repetir entre um par, pois é na questão das repetições constantes que há problemas. Mordidas(na cabeça, lateral do corpo ou cauda), tentativas de morder, perseguições(que acabam sendo seguidas por tentativas de agressão vindas do dominante) e contato frontal(peixe "cara-a-cara") são comuns em pares  de peixes palhaços que costumam brigar, sendo estes 4 comportamentos os que mais observamos no nosso estudo. Outros 
comportamentos como a ciranda(peixes em direção um a cauda do outro, fazendo movimentos circulares) e o dominante rodeando o submisso parado também podem ser indicativos do que acontece.
A seguir estão alguns vídeos relacionados a comportamentos agonísticos que identificamos.


Vídeo 1: Alguns comportamentos como a tentativa de morder e o confronto frontal podem ser observados. As agressões partem sempre da fêmea e o macho encontra-se a todo instante próximo ao azulejo, aparentemente recuado. O vídeo foi gravado em um período de alimentação.

Vídeo 2: Ameças de morder vindas por parte da fêmea, que persegue o macho quando ele tenta recuar.

Vídeo 3: Tentativas de morder por parte da fêmea, que persegue o macho quando este recua de suas agressões. Ao final do vídeo(1:00'- 1:02´) o macho apresenta um comportamento de "tremer", diante do agressor.

No vídeo 3 pode se observar um dos mecanismo de um individuo submisso para se livrar das agressões sofridas. O comportamento de “tremer”, bastante utilizado para esses fins, é relacionado também a um tipo de vocalização, segundo relatos de Orphal Colleye e Eric Parmentier, que analisaram a vocalização durante expressão de comportamentos agonísticos.

A)Individuo dominante perseguindo o submisso e produzindo sons agressivos.
B) Individuo submisso realizando movimentos de submissão(tremor de cabeça) e emitindo sons de submissão.
Fonte: http://www.advancedaquarist.com/blog/clownfish-vocalizations-used-to-establish-heirarchy-and-breeding-status


 Segundo Moyer e Bell(1976), os comportamentos agonísticos ocorrem mais frequentemente  em pares jovens ou imaturos, sendo que a ocorrência destes comportamentos decresce quando o par irá se reproduzir. Portanto, é muito importante se prestar atenção na frequência destes comportamentos,  para que os pares sejam ou não separados, até mesmo porque a agressividade pode causar danos nos peixes que sofreram agressão, levando a machucados que podem servir como uma porta para infecções bacterianas(como aconteceu com uma fêmea no nosso estudo). 

Comportamento de Coorte
Conhecer o comportamento sexual é muito importante num cultivo, pois certos comportamentos expressados nos machos e fêmeas indicam se estes estão aptos para a reprodução naquele momento. Os comportamentos de coorte em peixes palhaços são comuns e presentes em todas espécies do gênero Amphiprion, não se alterando a medida que os animais ganham experiência.
Infelizmente, não observamos a expressão de nenhum comportamento de coorte durante o estudo, mas, através de pesquisas, colocaremos aqui os que são considerados os principais:
Segundo Allen(1972), dois comportamentos que havia observado em seu estudo são considerados de interação entre o casal: a postura lateral, sendo a mais comum quando um individuo inclina a nadadeira dorsal na direção do parceiro, fazendo alguns tremores da cabeça(ou do corpo); e a postura paralela, que consiste em movimentos natatórios onde estão paralelamente um ao outro, podendo encontrar-se inclinados(inclinação com a parte ventral ou dorsal) ou não em direção ao parceiro;
Segundo Reese(1964) e Allen(1972) um comportamento chamado  "signal jumping"(ou "dança"), ocorre períodos antes da desova. Ele consiste em movimentos realizados pelo macho em torno da fêmea, caracterizados por serem de cima para baixo ou vice-versa. Segundo estudos, esse comportamento indica aproximação da desova;
* Segundo Allen(1972) e Haschick(1998), o comportamento de perseguir(seguir intensamente mas sem agressão a seguir) o parceiro também é muito comum , ganhando mais intensidade com a aproximação da desova;
*  Haschick(1998), observou a predominância do comportamento de "toque na barriga" do parceiro, o qual é mais realizado pelas fêmeas;
* A limpeza de substrato, identificada por Allen(1972) e também observada por Haschick(1998), é considerado o comportamento mais expressivo de que a desova está chegando. Segundo Haschick, esse comportamento se torna mais intenso a medida que o casal está prestes a desovar, sendo que Gopakumar(2006) relata que o macho se torna mais agressivo durante esse período de expressão de comportamento. 

Interação com o substrato

Interação individual com tubo de PVC

Quando propomos o projeto, nossa ideia inicial era de avaliar a escolha dos casais em relação ao substrato no período de desova. No entanto, como esta não ocorreu, nos pareceu interessante avaliar a interação dos pares em relação aos substratos inseridos, uma vez que Allen(1972) observou que o par frequentemente visita o futuro local do ninho.
 A interação com o substrato foi bastante observada no período de estudo, sendo caracterizada tanto como um comportamento individual(pares escolhem substratos diferentes para se estabelecerem) quanto um comportamento do par(ficam juntos no substrato), o que varia de acordo com a relação dos pares nos aquários.

REFERÊNCIAS:
Gopakumar, G.Culture of Marine Ornamental Fishes with reference to Production Systems, Feeding and Nutrition.
HASCHICK, Rory Dean. REPRODUCTIVE BAHAVIOUR OF THE SKUNK CLOWNFISH,Amphiprion akallopisos, UNDER CAPTIVE CONDITIONS. Chapter 3: SPAWNING BEHAVIOUR OF Aakallopisos1998.
 ALLEN,  G.R. 1972. The anemonefishes - their classification and biology. T.F.H. publications. 286 pp.
Moyer, J.T. and LJ.Bell 1976. Reproductive behaviour of the anemonefish Amphiprion clarldi at Miyake-Jima, Japan. Jpn. J. Ichthyol. 23(1): 23-32.
http://www.advancedaquarist.com/blog/clownfish-vocalizations-used-to-establish-heirarchy-and-breeding-status


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